segunda-feira, setembro 19, 2005

Banho de cultura...

A cultura nacional angolana está também disponível em teatros e cinemas.

Duas experiências que achámos que não poderíamos deixar de viver e às quais nos acabámos por render pela sua qualidade e conteúdo.

No teatro: "Quem matou João Kimungua"

Uma comédia, que de uma forma ligeira, aborda a história de um empresário de sucesso angolano, a quem um dia assaltam a empresa, obrigando-o a declarar falência. Mediante o cenário de miséria em que se encontra, decide exigir empréstimos que havia concedido a algumas pessoas, entre as quais um sogro, uma prima, e dois grandes amigos, uma dona de um bar e um chefe da polícia. Os 4 mostram-se surpreendidos por ele agora vir cobrar esse favor, que até já tinha alguns anos, e perante a incapacidade de reembolsarem as suas dívidas, tornam-se os principais suspeitos do homícidio de tal homem, que é baleado a sangue frio. O chefe da polícia acaba por ser o homem nomeado para investigar o crime. Dado o conflito de interesses, o seu subordinado assume a responsabilidade da investigação e acaba por descobrir que o criminoso havia sido o seu chefe, que confrontado com o facto, tenta suborná-lo. Mas o subordinado é incorrompível e a mensagem da peça é precisamente combater a "gasosa" e a "corrupção". O divertido é que cada figura é muito caricata e bem retratada, contendo por isso bons momentos de humor.

Agora a infra-estrutura de apoio... um palco de madeira velha, sem cenários, uma cortina de veludo preta demasiado gasta e umas cadeiras ao nível da mais caracterítica taberna portuguesa. Mosquitos??!! Incontáveis...

Resultado: uma comédia teatral digna de registo e a conclusão que uma ida ao teatro pressupõe o uso de calças compridas, meias e sapatos fechados.

No cinema: "O Herói"

Num género mais próximo do drama, é retratada a saga de um homem que foi recrutado para a guerra com 15 anos, onde se manteve 20 anos a lutar pela Pátria. Homem de honra, medalhas de coragem, a quem um dia o destino quis que pisasse uma mina. Assim, aos 35 anos de idade aquele homem, agora mutilado de um perna, regressa a Luanda, com pouco mais que uma mochila e a farda que traz no corpo. Depois de muito empenho, consegue uma prótese e começa a fazer fisioterapia. Sai do hospital e começa à procura de emprego. E vai sentir na pele o peso da marginalização por ser mutilado. Por ironia, o seu mais importante pertence - a prótese, é-lhe roubado à noite, enquanto dormia na rua. Mas acaba por ser este episódio que desperta a solidariedade de uma jovem professora (uma actriz portuguesa - Patrícia Bull) e que o aproxima de um rapaz a quem a guerra acaba por tirar o pai. A fotografia podia ser bem melhor, mas é incrível identificar todos os locais por detrás dos personagens. Até o prédio onde vivemos aparece no filme. Falha por não ser fiel ao lixo e ao movimento de pessoas na rua e por nem sempre aprofundar com a seriedade que justificava alguns temas como a responsabilidade política. Em todo o caso mereceu o nosso agrado.

Agora sobre a envolvente. Capacidade: 600 pessoas. Ecrã gigante. Paredes laterais inexistentes mas com cobertura. Mais uma vez, mosquitos..., muitos mosquitos. Recomendamos o mesmo traje.

Quanto ao público em geral vale a pena referir que demos nas vistas pelo tom da pele. Lá despercebidos é que não passámos... Fomos para ver mas acabámos por ser vistos!

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