quarta-feira, setembro 21, 2005

Dicionário angolano-português explicado

Este dicionário não se encontra por ordem alfabética e será actualizado sempre que se justifique:

Matabicho - pequeno almoço

Ainda - não
Num diálogo para entenderem o modo de emprego da palavra:
- Chegaste a fazer o telefonema que te pedi?
- Ainda

Fazer banga - exibir, ostentar (roupas de marca, ouro, um carro desportivo, ...)

Yah - partícula que pode e deve ser utilizada no fim qualquer frase e que tem a capacidade de a tornar facilmente compreensível para o outro lado.
Exemplos:
- Hoje não tenho nada para te dar, yah! (E eles afastam-se contentes com um sorriso nos lábios, apesar de não receberem nada)
- Essa comida é para dividires com os outros dois miúdos, yah?
- Sim madrinha, entendi.

Maca, kijila - problema
Exemplo:
- Não tem maca!

Incomodado - doente

Dores de bexiga - dores menstruais

Salo - trabalho

Bater - dar
Exemplo:
- Essa discoteca agora está a bater

Kumbu - dinheiro

Gasosa - tem duplo significado na realidade, pode querer significar mesmo gasosa, tipo coca-cola, ou, na maior parte das vezes, quer dizer retribuição em kumbu (em troca de um favor)

Mambo - coisa, cena
Exemplo:
- Esse mambo não funciona

Ruca - Carro

Cubico - casa

Raias - Óculos de Sol

Avilo - Amigo; Br"ó"ther

Ginga - Bicicleta

Pinar - Atirar-se à água; mergulhar

Bico - Pontapé
Exemplo:
- Vou te dar um bico

Kazucuteiro - Preguiçoso

Kandongueiro - Taxi/Minibus que leva até 12 pax. São eles que provocam o caos no transito da cidade! Só quem cá anda sabe o que isto quer realmente dizer.

Sem terem esse dicionário presente nem se atrevam a pisar solo angolano!

segunda-feira, setembro 19, 2005

Banho de cultura...

A cultura nacional angolana está também disponível em teatros e cinemas.

Duas experiências que achámos que não poderíamos deixar de viver e às quais nos acabámos por render pela sua qualidade e conteúdo.

No teatro: "Quem matou João Kimungua"

Uma comédia, que de uma forma ligeira, aborda a história de um empresário de sucesso angolano, a quem um dia assaltam a empresa, obrigando-o a declarar falência. Mediante o cenário de miséria em que se encontra, decide exigir empréstimos que havia concedido a algumas pessoas, entre as quais um sogro, uma prima, e dois grandes amigos, uma dona de um bar e um chefe da polícia. Os 4 mostram-se surpreendidos por ele agora vir cobrar esse favor, que até já tinha alguns anos, e perante a incapacidade de reembolsarem as suas dívidas, tornam-se os principais suspeitos do homícidio de tal homem, que é baleado a sangue frio. O chefe da polícia acaba por ser o homem nomeado para investigar o crime. Dado o conflito de interesses, o seu subordinado assume a responsabilidade da investigação e acaba por descobrir que o criminoso havia sido o seu chefe, que confrontado com o facto, tenta suborná-lo. Mas o subordinado é incorrompível e a mensagem da peça é precisamente combater a "gasosa" e a "corrupção". O divertido é que cada figura é muito caricata e bem retratada, contendo por isso bons momentos de humor.

Agora a infra-estrutura de apoio... um palco de madeira velha, sem cenários, uma cortina de veludo preta demasiado gasta e umas cadeiras ao nível da mais caracterítica taberna portuguesa. Mosquitos??!! Incontáveis...

Resultado: uma comédia teatral digna de registo e a conclusão que uma ida ao teatro pressupõe o uso de calças compridas, meias e sapatos fechados.

No cinema: "O Herói"

Num género mais próximo do drama, é retratada a saga de um homem que foi recrutado para a guerra com 15 anos, onde se manteve 20 anos a lutar pela Pátria. Homem de honra, medalhas de coragem, a quem um dia o destino quis que pisasse uma mina. Assim, aos 35 anos de idade aquele homem, agora mutilado de um perna, regressa a Luanda, com pouco mais que uma mochila e a farda que traz no corpo. Depois de muito empenho, consegue uma prótese e começa a fazer fisioterapia. Sai do hospital e começa à procura de emprego. E vai sentir na pele o peso da marginalização por ser mutilado. Por ironia, o seu mais importante pertence - a prótese, é-lhe roubado à noite, enquanto dormia na rua. Mas acaba por ser este episódio que desperta a solidariedade de uma jovem professora (uma actriz portuguesa - Patrícia Bull) e que o aproxima de um rapaz a quem a guerra acaba por tirar o pai. A fotografia podia ser bem melhor, mas é incrível identificar todos os locais por detrás dos personagens. Até o prédio onde vivemos aparece no filme. Falha por não ser fiel ao lixo e ao movimento de pessoas na rua e por nem sempre aprofundar com a seriedade que justificava alguns temas como a responsabilidade política. Em todo o caso mereceu o nosso agrado.

Agora sobre a envolvente. Capacidade: 600 pessoas. Ecrã gigante. Paredes laterais inexistentes mas com cobertura. Mais uma vez, mosquitos..., muitos mosquitos. Recomendamos o mesmo traje.

Quanto ao público em geral vale a pena referir que demos nas vistas pelo tom da pele. Lá despercebidos é que não passámos... Fomos para ver mas acabámos por ser vistos!

quinta-feira, setembro 01, 2005

Do passeio à pesca os fins de semana são únicos

Nem sei por onde começar... temos tardado tanto a publicar uma notícia sobre estes mais recentes fins de semana que os vou abordar sem qualquer lógica cronológica mas tão somente pelos momentos altos que ficaram gravados na nossa memória.

Vou talvez começar por um fim de semana bem diferente, que começou por dirigirmos para sul uns 190km até chegarmos à margem do Rio Longa, onde apanhámos um barquinho, com um motor de 15cv, descendo meia hora pelo rio até quase atingir a sua foz, vislumbrando nas margens, garças, bambus e ainda 2 tímidos mas intimidantes jacarés , até que chegássemos a uma estalagem de pesca, erguida sobre estacas de madeira, mesmo nas pantanosas margens do rio. Mesmo à chegada, junto do pontão de madeira tosco, que serve de porto, podiam ver-se nenúfares . Que magníficos!!! De seguida, os bangalows em madeira , muito bem enquadrados na paisagem (ver primeiros posts deste blog). Têm água quente corrente, mas nada de electricidade. A luz à noite é a que provem da lua e das estrelas, ou de algumas velas espalhadas pelas pitorescas palafitas... Para cozinharem, os funcionários da estalagem usavam umas daquelas luzes de mineiro na cabeça (sobre isso não tenho foto e o que eu lamento não ter registado o momento)... Realmente uma obra simples de um bom gosto notável, gerida por namibianos... quando cá vierem incluiremos dois dias no vosso roteiro para conhecerem este espaço.

Os dias, escusado seria dizer, foram inteiramente dedicados à pesca. E o resultado foi 4 pungos e um pargo. O peixe mais leve - 16kg ; o mais pesado 21kg. Atravessávamos o rio para a outra margem de barco, não fossemos ter o azar de nos cruzarmos com um jacaré, embora a travessia não se estendesse por mais de 20 metros, e íamos até ao lado do mar. Daí, com canas com cerca de 4,5 metros de comprimento e chumbadas na ponta da linha de 200gr, para evitar que o isco e o anzol sejam empurrados para a rebentação, faz-se o lançamento. Ora descobri que não tinha a menor vocação para este tipo de pescaria. O meu lançamento não deve ter ultrapassado os 15 metros, o que realmente não colocava o isco numa zona de muita fauna marítima. Os rapazes, por sua vez, vou ter que admitir, lançavam 50/60 metros, o que os deixava em franca vantagem. Mas foram dois dias muito divertidos e que deram para experimentar mais umas coisas novas.

Noutro dos fins de semana, baptizámos finalmente o esperado barco de um grande amigo do sogrinho, que não aprecia especialmente barcos nem mar, não tem carta de marinheiro, mas a quem recomendaram que não poderia passar mais sem um barco. Ainda bem, abençoados sejam por tão sábio conselho. O Nuno foi, pelo seu enorme sentido de responsabilidade, nomeado pelo dono para "tomar conta" do barco. Trata-se de um Quicksilver 750, com dois motores de 150cv cada. No Sábado seguimos na direcção da baía de Luanda e tivémos o privilégio de olhar para a cidade de uma perspectiva pouco usual . Ficam algumas fotos, que mesmo assim, garanto-vos, não são fidedignas da paisagem e da fotografia que marcaram o dia. No Domingo, optámos por ir para a contra costa. Para quem não conheça bem Luanda, a ilha do Mussulo, que é na realidade uma península, tem início cerca de 30 km sul de Luanda e estende-se, sobre o comprido, ao longo de 25km até quase chegar à cidade. Forma por isso a enorme baía do Mussulo de um lado, caracterizada por águas quentes e calmas, onde fazemos a maior parte das nossas pescarias, e está sujeita, do outro lado, a contra costa, ao agitado Atlântico, de água um pouco mais fresca. Prestado o esclarecimento... fomos então navegar para a contra costa e imaginem a nossa sorte, primeiro avistámos um peixe lua, um peixito com alguns 250kg, que é meio achatado mas que tem cerca de 2 metros de diâmetro. Pouco depois, vimos uma baleia . Estava a migrar para sul e para as águas frias. O Verão está a começar e as águas a aquecer... ainda fomos navegando lado a lado, seguindo o seu rasto... foi lindo!

Por último, vou limitar-me a falar de um fim de semana de acampamento. Lá fomos nós rumo a sul mais uma vez, 120km, para Cabo Ledo. Uma praia muito boa propícia ao surf, pelas suas ondas, e com um longo areal, perfeito para montarmos o nosso campo de beach tennis recentemente adquirido. Foi um fim de semana de perfeita comunhão com a natureza. À noite umas lanternas, uma fogueira e um chouriço assado, e depois foi adormecer ao som da ondas. Só mesmo o galo que não se calou por mais de 4 horas nos tirou do sério. Natureza, natureza tem limites... Hehehehe!!!!

Espero ter despertado em alguns o apetite de cá virem... depois da rotina tinha que vir o lazer!!!!! É uma terra de constrastes, capaz do pior mas também do melhor!

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